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Vale a pena morar junto antes de casar?

Veja os prós e os contras de morar junto e aprenda a lidar com os desafios de uma vida a dois

Há um ditado que diz que só é possível conhecer alguém de verdade quando se come um quilo de sal ao lado desta pessoa. Atualmente, muitos casais têm preferido morar junto antes de oficializar o casamento. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de um terço das uniões no Brasil são consensuais, sem casamento civil ou religioso.

Está pensando em juntar as escovas de dentes sem, necessariamente, fazer uma festa de casamento ou oficializar a união em um cartório? Confira as dicas de quem já passou pela experiência e de alguns especialistas e descubra qual é a melhor opção para você.

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Como tomar esta decisão: casar ou morar junto?

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Foto: Shutterstock

 

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Se você e seu(sua) parceiro (a) ainda estão em dúvida a respeito desta decisão, vale a pena avaliar algumas questões.

Para a neuropsicóloga Priscila Gasparini, tomar a decisão de morar junto ou casar de papel passado envolve um tempo de relacionamento, no qual o casal se conheça muito bem, tenha passado bons e maus momentos juntos, viagens, passeios, e o principal: tenha os mesmos objetivos futuros e queira dividir a vida.

“Isso envolve não apenas ficar mais tempo juntos, como conviver no mesmo espaço, mas também a rotina, as tarefas, as contas e as responsabilidades. O casal deve avaliar se está com o mesmo propósito e, até sobre morar junto ou casar de papel passado, deve haver uma conversa.  Ouvir um ao outro, ver os prós e os contras de cada situação e a partir daí tomar uma decisão conjunta. Tem casais que preferem legalizar a situação perante a justiça e outros querem algo mais informal para ver primeiro se vai dar certo. O importante é ter como objetivo construir uma história junto, onde sempre prevaleça o diálogo para aparar as arestas do relacionamento”, pondera.

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A psicóloga Linda Vieira acredita que hoje muitos casais estão optando pela praticidade, e não necessariamente a certidão.

“O ‘test drive’ pode ser a oportunidade de o casal amadurecer a relação nesse período. Dividir o mesmo espaço, uma rotina, seja fazendo um teste drive, ou iniciar essa nova etapa de papel passado, os princípios são os mesmos: amor, respeito e principalmente diálogo”, pontua.

Para Linda, independente da decisão do casal, o importante é não pular etapas em função das expectativas e da ansiedade. “Isso pode gerar um desgaste na relação se o casal ainda não tiver vínculo forte o suficiente para lidar com situações do dia a dia”, alerta.

Antes de tomar a decisão, também vale lembrar de todos os pontos que um casamento “de papel passado” implica.

“É preciso analisar as implicações legais, tais como a mudança permanente de estado civil, além das benesses garantidas aos  cônjuges na condição de dependentes legais e dos direitos aos bens e heranças. Também vale considerar o  grau de maturidade, abertura e dedicação que uma nova configuração da relação poderá exigir”, afirma  Luiz Francisco Jr., life coach, psicólogo e professor da FADISP.

Vantagens de morar junto antes de casar

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A profissional autônoma Caroline Motta optou por fazer um “test drive” antes de subir ao altar e recomenda a experiência.

“Escolhemos morar juntos antes de casar para poder conhecer melhor um ao outro. As pessoas às vezes investem na relação e depois acabam se decepcionando por criar muitas expectativas. Como nem tudo são flores, super apoio morar juntos antes. Isto possibilita saber como a pessoa acorda, como ela vai reagir após um desentendimento, se a pessoa cozinha bem, entre outras coisas”, pontua.

A projetista Ana Carolina de Lima também compartilha da mesma opinião que Caroline. A princípio, ela e seu marido fariam uma festa de casamento, mas desistiram por conta de alguns gastos que teriam com a casa.

“Já havíamos comprado uma casa. Com o passar do tempo, a compra de móveis, colocação de piso e demais coisas da casa, decidimos adiar o casamento – nossos gastos mensais não suportariam uma festa. Então decidimos morar juntos, pois a casa estava pronta com boa parte dos móveis e era inviável eu manter uma casa e termos os gastos de uma casa fechada todo mês”, conta.

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Com base na sua própria experiência, Ana Carolina é uma grande defensora do chamado “test drive” antes da festa de casamento.

“Acredito que morar junto antes de casar nos faz ter certeza se escolhemos a pessoa certa, se estamos dispostos a abdicar de muitas coisas e costumes, se aprendemos a humildade de perdoar, e calar nas horas certas. Pois o casamento é ‘morde e assopra’, puxamos aqui e agradamos ali e temos que dosar bem isso.

Nada na vida é garantido e o ‘test drive’ nos ajuda a ter certeza de que é com essa pessoa que realmente queremos passar o resto dos dias. Construir uma vida a dois é como abrir uma empresa, os sócios têm que trabalhar juntos se não ela vai falir”, opina.

Para Priscila,  a grande vantagem de morar junto antes de casar é que o casal pode se conhecer melhor em situações que só o convívio traz. Isto inclui manias, organização pessoal, dividir o espaço, respeitar o espaço do outro, saber ouvir, saber ceder e ver se ambos se adaptam bem e têm os mesmos planos para o futuro.

A psicóloga Gisela Monteiro também é uma entusiasta da ideia: “O test drive só tem prós, porque coloca o casal com os pés na realidade da convivência cotidiana, que é a prova de fogo das relações afetivas”.

Luiz Francisco Jr. acredita que morar junto antes de casar pode trazer à tona, por meio da experiência concreta, quais são os desafios da escolha de uma vida a dois.

“Considerando que nem sempre um indivíduo tem a oportunidade de escolher ou tomar decisões com base em experiências concretas em caráter de teste, torna-se valioso para qualquer contexto a oportunidade de realização dessa condição prévia. Mas é importante ressaltar que a experiência é um recorte numa determinada fase da vida atrelada a um contexto de vida dos envolvidos. E isso não garante absolutamente nada em médio e, especialmente, em logo prazo. A personalidade é dinâmica e as pessoas podem mudar consideravelmente num determinado período, inclusive por influências da nova vida adotada”, aponta.

Cuidados e desvantagens de morar junto antes de casar

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Ao morar junto com seu parceiro, Caroline conta que a única questão que pegou foi o medo de se acomodarem ou até mesmo ter muitas contas e de não conseguirem realizar o sonho do casamento.

“Mas no final das contas, deu tudo certo! Nosso casamento está marcado para Fevereiro de 2020”, revela. Ana Carolina passa por situação semelhante: “Depois de morar junto, com todas as contas e despesas mensais, é bem mais complicado organizar uma festa, pois em geral todos os meses são no vermelho”.

“Se um casal deseja muito realizar um casamento formal, de papel passado, não há problema algum em fazer um test-drive, desde que se estabeleça uma data para o casamento. Senão, corre-se o risco desse casal já se frustrar rapidamente, uma vez que esse teste acaba se tornando um ‘morando juntos’ e o tal casamento esperado nunca acontece”, afirma Sabrina Costa, terapeuta de relacionamentos do Clube Meditation 4 You.

Independente se for um casamento com festa ou não, Linda lembra que essa decisão deve ser bem pensada, pois enfrentarão conflitos do dia a dia como se a união fosse oficial.

Por isso, ela aponta que é  importante ter consciência e o desejo de querer estar com alguém. “Muitas vezes a pessoa não está bem nem sozinha e acha que a única chance de se sentir melhor é estando ao lado de alguém. Isso não vai acontecer, pelo contrário só vai piorar o seu estado emocional”, sugere.

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Outra questão que pode pesar para quem vai fazer o “test drive” é a forma como enxergam esta experiência. “Muitos consideram que apenas morar junto ajuda se for necessário se separar, uma vez que não oficializaram a união. Há um grande equívoco nesse pensamento, pois dividir o mesmo espaço com outra pessoa implica mudanças de prioridades, de propósitos, de interesses, adaptação ao comportamento do outro, em cooperação, cumplicidade, renúncia, divisão de responsabilidades, pensarem em conjunto, etc.Será que mesmo num ‘test drive’, estarão dispostos a fazer concessões?”, questiona Linda.

Priscila concorda e completa: “um dos contras de morar junto antes de casar é que a maioria dos casais que opta por isso vai com a ideia de que é só uma tentativa e que se não der certo separa, como se não fosse algo sério. Problemas sempre existirão e discórdias também. O importante é manter o diálogo e o amor estar presente para a resolução destes problemas, além de estarem firmes no propósito de ficar juntos, com maturidade”.

E se o casal resolver ir direto para o altar?

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Camila Leite não quis morar junto antes do casamento. Para ela, foi incrível a sensação de estar casada e poder ter sua casa e sua família. “Não tivemos nenhuma dificuldade, pois queríamos muito casar. Pela minha história de vida, casar e ter minha casa foi a melhor solução, pois perdi minha família muito cedo”, afirma.

Se você pretende morar junto só depois da cerimônia, a dica é se planejar com cuidado. “O casal deve conversar muito sobre o que quer fazer, chegar a um consenso e, a partir daí, planejar prazos, parte financeira, fazer um cronograma com tudo o que terão que resolver, como por exemplo, documentação, festa, roupas, padrinhos, local, Buffet, viagem, etc. Tudo bem planejado não gera conflitos e os gastos deverão estar bem adequados ao orçamento do casal, sempre com maturidade e responsabilidade”, defende Priscila.

Linda indica que é importante que o casal esteja alinhado em todos os momentos. “Quando falamos em casamento, nos referimos a decisões, escolhas e responsabilidades. É um período cheio de alegrias, mas também muito estresse: comprar, combinar, cerimônia de casamento, viagem, divisão de contas, enfim são muitos os detalhes. Para esse e todos os momentos que virão, a paciência é fundamental. O foco é a união, a festa, a viagem e a celebração dessa união”, recomenda.

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Outro detalhe que o casal deve estar ciente é o fato de que por mais que os dois tenham passado muito tempo juntos, viajando, passeando, nunca morou junto, isso não é o suficiente para conhecer a outra pessoa a fundo.

“Cada um vem de uma família diferente, com uma cultura, costumes e criações únicas, que geram comportamentos pertinentes àquele grupo. Quando duas pessoas se unem, esses comportamentos deverão ser lapidados, conversando muito sobre o que incomoda e o que agrada de um para o outro, para assim gerar um bom convívio”, justifica Priscila.

Sabrina lembra que às vezes pode acontecer de o casal ficar muito encantado pelos preparativos e pela realização de um sonho e acabar se esquecendo de se preparar para a realidade que vem depois: quando a festa acaba, quando as contas começam a chegar e quando a cueca fica no chão do banheiro.

“Mesmo que não se faça o ‘test-drive’ é muito importante que antes de casar esse casal conviva sobre o mesmo teto, pelo menos aos finais de semana para irem sentindo como é dividir um espaço físico entre eles”, opina.

Luiz Francisco Jr. acredita que o casamento pode funcionar como uma celebração para uma nova fase na vida do casal, um rito de passagem para uma outra etapa que trará desafios diferentes e possivelmente mais profundos do  que os existentes numa relação de menor convivência e com implicações legais e familiares superiores às de um namoro ou noivado.

Por isso, é preciso ter os pés no chão. “O casal deve estar ciente de que mudanças trazem desafios para além da magia. Elas convidam às reflexões e não só à fantasia. O que não estava funcionando bem antes do casamento não se transformará milagrosamente, mas poderá se intensificar e provocar momentos de tensão. E quando há chance de um preparo prévio, ainda que apenas no âmbito das hipóteses, isso pode fortalecer e aquecer o casal a pensar em opções e alternativas para os possíveis desafios que virão”, afirma.

Ele (a) quer festa, mas eu não. Como fazer?

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Para Sabrina, este é um dos pontos  onde começa o primeiro e grande problema da relação. “Uma festa de casamento, em geral, é grande um sonho.  Casamento é dar para o outro o que para ele é tão importante, e abrir mão de muitas coisas para fazer o outro feliz.

Chegar a um consenso, conversar, dialogar e até colocar num papel quais são os motivos para que fazem isso importante para um, e pouco importante para o outro é essencial. Se for uma questão financeira, vale tentar chegar a um ponto em comum, em que seja possível realizar o sonho de um, sem afetar por anos a vida financeira de ambos.

Tudo é uma questão de adequação. Se existe um sonho envolvido, mesmo que seja de apenas um lado, é importante que seja realizado da melhor forma possível, e que sempre estejam em comum acordo das decisões que afetam o casal, seja financeiramente como emocionalmente”, explica.

Um dos pontos principais de um casamento é chegar a um consenso. “Se não houver consenso, um dos dois será muito mais contrariado que outro, o que é um jeito muito ruim de começar a relação. O exercício de se chegar a um consenso é fundamental. A dupla tem que exercitar comunicação e uma negociação, que são a base para uma relação saudável!”, esclarece Gisela.

Priscila concorda: “Chegar a um acordo é uma das primeiras resoluções importantes do casal, um importante aprendizado. Além disso, é necessário treinar o diálogo e o jogo de cintura de ambos para alinhar a situação”.

Linda sugere que a melhor prática é colocar-se na perspectiva do outro, de um lado entender a importância de se fazer a festa de casamento, e do outro lado entender quais os motivos desse desejo não ser o mesmo para o companheiro (a).

“Não impor, mas dialogar. Não é ver quem tem razão, mas explicar os seus motivos, questionar as necessidades do outro. Demonstrar o quanto você realmente quer isso, e permitir que o outro reflita, considere. É normal não estar de acordo com algo, mas relacionamento é troca, é querer ver o outro feliz. O argumento ainda é a melhor forma das pessoas se entenderem”, sugere.

Casamento civil x união estável

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Alguns casais que escolhem morar junto também optam por fazer união estável. Confira dicas dos advogados Simon Zveiter, Jô Antiório e Danilo Montemurro, professor da FADISP, sobre o tema:

– O casamento civil e a união estável, basicamente se equivalem. As diferenças estão nas formas como se iniciam e se extinguem. E também em alguns direitos sucessórios. O casamento civil gera uma segurança jurídica, afinal trata-se de um ato jurídico perfeito, inclusive com data de início muito bem definida.

– O casamento civil é regido pelo Direito da Família, do Código Civil brasileiro, e reconhecido como entidade familiar, formalizado por meio de uma celebração feita por um juiz de paz ou juiz de direito. Inclui a emissão certidão de casamento, podendo os cônjuges acrescentar o nome de casado. Para a realização do casamento civil é necessário à realização dos proclamas junto ao cartório civil mais próximo da residência de um dos cônjuges e modifica o estado civil para CASADO.

– A União Estável não modifica o estado civil da pessoa. Ela tem como objetivo único constituir uma família, podendo ser formalizada através de escritura pública elaborada em cartório. A formação da entidade familiar pela união estável é informal, independe de qualquer formalidade ou solenidade e o principal requisito é a união de duas pessoas com o propósito de formar uma família. Morar junto, ou seja, coabitação não é um requisito para se configurar uma união estável. Portanto, existem uniões estáveis entre pessoas que não moram juntas. O inverso, da mesma forma, é verdadeiro, morar juntos, por si só, não representa a existência de uma união estável.

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– Em caso de separação, ela deverá ser feita na forma escolhida no ato dos proclamas para o casamento. Já na união estável, se não existir a formalização da mesma será utilizado a comunhão parcial ou a definida em escritura.

– Em caso de falecimento, vigora a mesma regra de sucessão para ambos (casamento e união estável). Os bens serão partilhados igualmente entre cônjuge/companheiro com os descendentes, dependendo do regime. Se não houver descendentes, ele concorre com os ascendentes. Se não houver descendentes ou ascendentes, o cônjuge/companheiro recebe a integralidade do patrimônio.

– Para os casados, se houver filhos menores, deverá ser feito o divórcio judicial. Caso não tenha filhos, poderá ser realizado em cartório através de escritura. O mesmo serve para união estável formalizada por escritura – a diferença é que ao invés de divórcio será realizada a dissolução da união estável. No casamento, haverá um processo judicial onde se decretará o fim do casamento (alteração do estado civil) e os regimes de guarda, alimentos, etc. Na união estável, é necessário provocar a justiça, ou seja, uma ação para reconhecimento da união e dissolução e aí se combina com a ação de definição de guarda e alimentos. Pode-se inclusive nem se pedir o reconhecimento, apenas entrar com a ação de definição de guarda.

Texto feito com a consulta da neuropsicóloga Priscila Gasparini; da  psicóloga Linda Vieira;  do life coach, psicólogo e professor da FADISP Luiz Francisco Jr; da terapeuta de relacionamentos do Clube Meditation 4 You Sabrina Costa.

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Sobre:

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Marina Pastore

Marina Pastore é jornalista e trabalhou na Folha de S.Paulo. Desde 2011, quando começou a organizar seu próprio casamento, se apaixonou pelo assunto e criou um blog, o Vestida de Branco, para dividir ideias, opiniões e dúvidas. Anos depois do seu casamento, ainda adora falar sobre o assunto, ajudar as noivas e com...

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